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Arquitetos: BodinChapa Architects
- Área: 220 m²
- Ano: 2020
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Fotografias:Witsawarut Kekina
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Fabricantes: COTTO, Ekoblok, Lamitak, Lamptitude
Descrição enviada pela equipe de projeto. A Baan Priggang, ou Casa da Pasta de Curry encontra-se localizada na região central da província de Saraburi, Tailândia, em uma área residencial povoada por pequenos negócios familiares, como a antiga fábrica que dá nome a casa. Devido as condições precárias da estrutura original de madeira, o proprietário decidiu reformar este edifício de dois pavimentos, adaptando-o às novas necessidades para manter viva a tradição deste pequeno negócio familiar que vem sendo passado de geração em geração.
Embora a estrutura original do edifício estivesse em mal estado, desgastada pelos anos de uso e pela presença constante dos cupins, os arquitetos decidiram reaproveitar tudo aquilo que fosse possível da antiga estrutura. Desta forma, foi preciso desenvolver um amplo processo de planejamento da obra antes mesmo de chegar às vias de fato, muito também pela necessidade de se construir uma pequena área de apoio à fábrica para que a produção não fosse interrompida durante a construção. Assim, a execução do projeto de reforma da casa-fábrica foi realizada em 2 etapas, separando os espaços interiores em duas áreas independentes, resolvendo assim os problemas de compatibilização entre a vida dos moradores, a operação da fábrica e as obras de reforma e construção.
Todas estas limitações desempenharam um papel fundamental no processo de planejamento da obra. Outras restrições adicionais foram impostas pela necessidade de favorecer a ventilação natural dos espaços de produção e manutenção das vistas da casa para o entorno. A solução encontrada pelos arquitetos propunha relocar a zona de recepção na parte frontal da casa e a construção de uma cozinha tailandesa na parte posterior do terreno. Desta forma, a cozinha recuada libera a parte frontal do edifício para que os moradores possam recebem seus hóspedes com maior comodidade. Além disso, a cozinha poderá ser facilmente ampliada no futuro sem causar nenhum impacto negativo nos espaços interiores da casa, permitindo que a empresa cresça se assim for necessário. A cozinha opera como a espinha dorsal do edifício, conectando a casa à fábrica. De forma complementar, nesta configuração a cozinha poderá ser utilizada para servir o café-bar que o proprietário planeja construir ao longo dos próximos anos.
Junto à cozinha, o volume da escada funciona como um elemento de transição entre os espaços de uso comum e privativos da casa. O núcleo de circulação vertical foi projetado como um espaço aberto de pé-direito generoso que chega até a cobertura, por onde a luz natural é filtrada antes de penetrar no interior do edifício—minimizando ainda a dependência da casa de sistemas artificiais de iluminação além de integrar visualmente os espaços do primeiro e segundo pavimento. Abaixo da escada encontra-se uma pequena área de estar com espaços de armazenamento.
Buscando preservar um dos mais importantes elementos compositivos da estrutura original, os arquitetos optaram por manter a varanda frontal do segundo pavimento, um elemento típico da arquitetura vernacular tailandesa utilizado para conectar uma casa a outra. Os principais espaços de convívio da casa ficam logo atrás da varanda frontal, aproveitando-se da ampla iluminação e ventilação natural que esta última proporciona.
Ao trazer de volta para o centro da casa o espaço da cozinha, os arquitetos procuram resgatar um importante elemento para a história da família: a fábrica de curry. Formalmente, eles buscaram inspiração na “arquitetura” das máquinas caseiras construídas pelos seus antepassados para a fabricação da pasta. A paleta de materiais foi escolhida para criar uma diferenciação entre aqueles espaços que definem a casa e aqueles da fábrica de curry. Os elementos quentes como a madeira foram utilizados nos espaços de produção enquanto os tons de cinza informam onde encontram-se os espaços privativos da família. Além de criar um contraste entre os dois programas, as cores utilizadas nos espaços da fábrica servem para dissimular as manchas que inevitavelmente aparecerão pelas paredes e forros da fábrica.
Exteriormente, o edifício procura integrar-se à seu contexto específico, apropriando-se de alguns elementos mais tradicionais ao mesmo tempo que reafirma a sua própria identidade como um edifício moderno e singular. Desta forma, a sua arquitetura encontra-se profundamente enraizada na paisagem do interior de Saraburi, um edifício que exala—simbolicamente e literalmente—a essência desta terra.